O título pode até ser um tanto ousado, mas foi assim que me senti como brasileiro ao ver a deportação de meus compatriotas dos EUA. Carrego comigo a dor e a humilhação. Porém, entendo, mas não aceito, que a resposta de muitos governos diante da crise da globalização tem sido o crescimento de movimentos e políticas nacionalistas severas de extrema direita, baseadas na exploração do sentimento de identidade nacional para se posicionar no xadrez político e econômico global. A plataforma dessas organizações privilegia a soberania sobre a economia (por meio do protecionismo) e as fronteiras (em um discurso anti-imigratório).
No caso dos EUA, o presidente eleito Donald Trump já tinha como carro-chefe de sua campanha a promessa de “deportação em massa”.
Ao ser eleito e assumir o cargo, em 24 de janeiro de 2025, ele tomou a decisão que havia prometido. Foi um verdadeiro “caça às bruxas”. Agentes do FBI e policiais fortemente armados prenderam ostensivamente 88 brasileiros em suas casas, empregos e outras localidades, sem nenhum aviso formal, todos vivendo clandestinamente (ilegalmente) no país. Não estou protestando contra a deportação, pois ela é “legal”; assim como é legal, segundo as leis do país, algemar os deportados, por questões de segurança. Essa lei, no entanto, só tem validade no espaço aéreo e no território americano.
Meu protesto é sobre a maneira como os deportados foram tratados. Em primeiro lugar, Trump sempre se refere aos migrantes ilegais como “criminosos”, sem antes investigar seus antecedentes, tanto fora quanto dentro dos EUA, e, com isso, expedir um “Certificado de Bons Antecedentes”. Os 88 deportados eram trabalhadores, chefes de família. Estavam certos? Não. Porém, não eram criminosos.
O TRANSLADO PARA O BRASIL
Antes de embarcarem em uma aeronave alugada pelo governo de uma empresa terceirizada, os deportados foram devidamente algemados e tiveram os pés amarrados por correntes. Durante o voo, cujo destino era o Brasil, estado de MG, os deportados sofreram maus-tratos, como péssima e insuficiente alimentação, privação do sono, dificuldade para utilizar os banheiros e a falta de ar condicionado na aeronave. Após decolar, o avião fez uma escala no Panamá e outra em Manaus.
Foi em Manaus que os brasileiros se rebelaram, pois já não aguentavam mais tanto sofrimento. Começaram a forçar a saída de emergência, que finalmente foi aberta pela tripulação, e os brasileiros desceram. Esta foi a pior cena que vimos pelos meios de comunicação: compatriotas deixando a aeronave algemados, empurrados e com os pés acorrentados, como se fossem “mero entulho”. Não se esqueçam que, no espaço aéreo nacional e em solo brasileiro, as leis são outras e não permitem que nenhum deportado permaneça algemado. Os EUA cometeram crime ao não respeitar nossas leis soberanas. Diante de todo esse incidente, Trump “deu de ombros”, não pediu desculpas formais, preferindo culpar a empresa aérea, que, diga-se de passagem, além de representar o país de origem, cumpria uma missão sem fugir dos itens impostos pelo governo americano. Trump sabia de tudo o que acontecia.
RECADO PARA O PRESIDENTE DOS EUA
Trump, nunca se esqueça de que sua mãe, Mary Anne MacLeod Trump (escocesa), chegou aos EUA com outros retirantes europeus na década de 1920, com apenas 50 dólares no bolso. Você, portanto, é filho de retirante, e teve sua chance nos EUA. Não se esqueça ainda de que já foi julgado pela Justiça Americana por atos ilegais cometidos em seu primeiro mandato e só não está preso porque é presidente.
Por Marcos Antonio de Moraes – Cientista político; Pós Graduador pela UNICAMP. Professor de Geografia; de geopolítica; palestrante e conferencista. Autor de oito livros publicados pelo Grupo Atmo&Alínea: Geografia Econômica: Brasil de colônia a colônia; Geopolítica: uma visão atual; Geografia física: o meio ambiente pede socorro; Geografia Humana: o homem, origem, jornada e evolução tecno científica; Oriente Médio; O Ressurgimento da Rússia; Conflitos do Golfo Pérsico; China, o dragão asiático.