A proximidade do verão traz consigo a seca e a estiagem, sobretudo nos municípios do alto sertão e do agreste sergipano. Para assegurar o abastecimento hídrico nas regiões mais vulneráveis, o Governo do Estado articula a Operação Carro-Pipa, que leva água a povoados e comunidades no Sergipe profundo. A iniciativa é conduzida pela Superintendência Estadual de Proteção e Defesa Civil (Supdec), vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura (Sedurbi).
Para que o município receba os carros-pipa, é necessário cumprir as designações da Portaria 260/2021, do Governo Federal. Os critérios estão relacionados a danos humanos e ambientais, exaurimento hídrico, prejuízos econômicos e hídricos. Comprovado o enquadramento nesses itens, o Governo do Estado homologa a decretação de estado emergencial e o município é reconhecido pelo Governo Federal para receber a ajuda humanitária.
“Um dos relatórios necessários para decretar a situação de emergência é o dos índices pluviométricos regionais. Para isso, temos parceria com a Semac [Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas]. A Emdagro [Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe] também é parceira, informando os prejuízos econômicos da agricultura e da pecuária”, afirma o superintendente da Supdec, tenente-coronel Luciano Queiroz.
A determinação da quantidade de carros-pipa que cada local deve receber considera o quantitativo de pessoas na comunidade e a distância do manancial onde a água será coletada. Todos os anos é gasto R$ 1 bilhão em Sergipe com esse propósito, destinado pelo Governo Federal. O repasse é feito, em sua maioria, ao Exército. A Defesa Civil também recebe parte do recurso, de forma a atender, por solicitação dos municípios, às regiões não alcançadas pelo Exército, como forma de complementação.
Planejamento
Hoje, dois municípios (Nossa Senhora da Glória e Poço Verde) são atendidos pela Defesa Civil e dez (Nossa Senhora da Glória, Carira, Nossa Senhora Aparecida, Tobias Barreto, Poço Verde, Frei Paulo, Pinhão, Poço Redondo, Porto da Folha e Monte Alegre de Sergipe) sinalizaram situação de emergência. No total, 63 mil pessoas em Sergipe vêm sendo afetadas pela seca e pela estiagem. Já o número de pessoas atendidas chega a 28 mil. Noventa e oito caminhões-pipa estão em atuação para atender a essa áreas, contando a atuação do Exército e das defesas civis estadual e municipal.
Em Glória, sete povoados estão sendo abastecidos com carros-pipa via Defesa Civil. São 111 famílias beneficiadas, nas localidades rurais de Caimbra III, São José, Retiro II, Macacas, Lagoa do Boi e Fortuna. Em Poço Verde, são seis povoados. Somente no povoado Lagoa do Junco, onde foram iniciadas as atividades, mais de cem famílias foram contempladas. Nos dois municípios, são 1,5 mil pessoas atendidas. Para beneficiar a essas localidades, foram aportados R$ 400 mil. O crescimento da demanda tem causado um aumento no escopo do planejamento da entidade, de modo que a Defesa Civil vem buscando ampliar o atendimento em Poço Redondo e Frei Paulo. Para dar conta desses locais, a Defesa Civil irá solicitar ao Governo Federal a quantia de R$ 1 milhão.
Cada município tem seu próprio cartão, por meio do qual os recursos advindos do Governo Federal são destinados. Para que a Operação Carro-Pipa seja colocada em prática, seis servidores da Defesa Civil são responsáveis pelo planejamento e fiscalização do abastecimento. A equipe também envolve pipeiros, coordenadores municipais de Defesa Civil, Emdagro, Semac e setor administrativo de cada município.
A previsão da Defesa Civil é de que o número de municípios em situação de emergência aumente nos próximos meses. O município de Pinhão, por exemplo, que não vinha solicitando a ajuda humanitária nos últimos anos, entrou na lista das cidades em situação emergencial e aguarda o reconhecimento do Governo Federal. “Nos últimos quatro anos, a média foi de 12 municípios atendidos. Neste ano, pode ser que cheguemos a mais. Mas o estado já chegou a registrar 39 municípios em emergência”, resume Luciano Queiroz.
O período de seca e estiagem em Sergipe se estende por seis meses, indo de outubro a abril, com pico em dezembro e janeiro. “Toda vez que o município quer decretar emergência, remete a documentação à Defesa Civil por meio do Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres. A gente avalia se todos os critérios da Portaria 260 estão sendo atendidos. Se não estiverem, a gente aponta as correções e faz a assessoria ao município para que a documentação chegue a Brasília da forma mais assertiva possível”, explica o superintendente. Luciano Queiroz acrescenta que a Defesa Civil também atua na capacitação dos municípios para a utilização do sistema onde as informações são submetidas.
Abastecimento
A distribuição da água nos municípios é pensada a partir de uma linha do tempo, mês a mês. Os caminhões, contratados via Sedurbi, estão em atividade todos os dias. “Em Poço Verde, por exemplo, são 79 carradas por mês, ou 741 m³ de água. Em Glória são 21 carradas, ou 224 m³ de água. Isso totaliza quase um milhão de litros de água nos dois municípios”, relata.
A água vem de reservatórios da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), já tratada e pronta para consumo humano, e abastece os caminhões-pipa. No caso de água retirada de locais expostos, são distribuídas pastilhas de cloro para tratamento. O abastecimento é feito em cisternas nas comunidades, em propriedades que são utilizadas como pontos-focais. Cada cisterna tem capacidade, em média, para 16 m³ de água – ou 16 mil litros. Nas comunidades, a água é distribuída individualmente, sendo que cada pessoa tem direito a 20 litros por dia.
O planejamento da destinação também é feito pela Defesa Civil, que vai, in loco, fazer a conferência do número de pessoas por comunidade e por família. A dinâmica de trabalho da Defesa Civil é diferente daquela empregada pelas Forças Armadas. “O Exército distribui em um ponto específico, e todas as famílias têm que se deslocar no raio de um quilômetro. Já a Defesa Civil atua com maior flexibilidade, remanejando pontos-focais e locais de coleta”, descreve.
Ao longo dos anos, algumas tecnologias foram empregadas de forma a facilitar a distribuição. O controle, hoje, é feito por meio de um aplicativo que verifica em tempo real a entrega da água em cada comunidade. “Quando o pipeiro chega ao seu ponto, ele faz uma foto georeferenciada e nos envia, para que a gente verifique a linha do tempo”, pontua. O uso de um sistema integrado entre municípios, estados e Federação também facilita o fluxo de informações, já que reduz a necessidade de remessa de documentos físicos.
Fonte: Secom