Mestres da cultura popular discutem preservação de tradições em celebração do Dia do Folclore

Em celebração ao Dia do Folclore –  22 de agosto -, o Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap), realizou uma mesa-redonda com mestres e lideranças de diversos grupos folclóricos do estado. Realizado no Palácio Museu Olímpio Campos, em Aracaju, o encontro teve como objetivo discutir a preservação das manifestações culturais sergipanas e os esforços necessários para garantir a continuidade dessas tradições entre as futuras gerações.

A mesa-redonda reuniu mestres e lideranças de destaque no cenário folclórico sergipano. Entre os participantes estavam o mestre José Carlos, do Cacumbi de Mestre Deca, acompanhado por seu irmão Antônio Carlos, responsável pela administração do grupo; a mestra Marilene dos Santos, representando o Reisado de São José; o mestre Neilton, à frente do grupo São Gonçalo do Amarante; Maria Helena, representante do Reisado As Filhas de Maria; a mestra Dona Nadir, do Samba de Pareia; e o mestre Zé Rolinha, que lidera o Batalhão do Primeiro São João e a Chegança, além de ser o Rei do grupo Lambe-sujo.

A programação foi aberta pela mestra Marilene dos Santos, do Reisado de São José, cuja trajetória de vida é marcada por uma profunda paixão por esta manifestação folclórica desde a juventude. Mesmo enfrentando a proibição dos pais, Marilene seguiu seu sonho, chegando a fugir de casa para isso. “Eu queria mesmo era ir para a rua e viver o Reisado. Me sentia como um passarinho na gaiola, cheio de asas querendo voar, mas sem poder. O tempo passou, e só aos 48 anos consegui entrar no mundo que sempre desejei. O Reisado é tudo de bom que tenho na vida. Sempre fui apaixonada pela minha cultura e serei assim até o fim”, declarou.

Durante a discussão, os mestres enfatizaram a importância de transmitir o conhecimento cultural entre gerações, ressaltando que muitos deles iniciaram suas jornadas nas manifestações folclóricas influenciados por seus pais e antepassados, perpetuando o legado.

O mestre José Carlos relembrou um momento marcante de 2003, quando o saudoso mestre Deca, seu pai, fez um pedido especial aos filhos: que mantivessem vivo o grupo e a tradição cultural. “Quando ele me fez o pedido, eu disse que não sabia por onde começar, pois havia me afastado da cultura por muitos anos. Mas atendi ao seu chamado. A cultura tem uma força tão grande que conseguiu reunir três irmãos que, naquela época, moravam em lugares diferentes. Consegui fazer esse elo para nos tornamos um grupo organizado, participativo e influente, sempre incentivando a juventude a se engajar”, compartilhou José Carlos.

Dona Nadir, mestra do Samba de Pareia, herdou o amor pela cultura de seu pai, José Paulino, que era patrão do grupo São Gonçalo e tirador do Samba de Pareia na noite de São João. “Eu ainda era pequena, tinha 10 anos quando comecei a acompanhar meu pai. Foi com ele que aprendi tudo o que sei hoje. Antes de falecer, meu pai me pediu que não deixasse a cultura morrer, que assumisse o Samba de Pareia e o Reisado. Desde então, tenho cumprido essa promessa”, disse.

O grupo São Gonçalo de Amarante tem uma rica história de liderança, com sete patrões que, ao longo das gerações, perpetuaram essa tradição cultural. O mestre Neilton Santana, atual patrão, é neto do antigo mestre, Seu Sales. Sua trajetória começou ao assumir o grupo mirim, depois o grupo de jovens, até finalmente se tornar líder do grupo adulto, enfrentando muitos desafios pelo caminho. “O São Gonçalo é tudo para mim, é minha segunda vida, onde dedico todo o meu esforço e paixão. Hoje, as crianças que pedem para entrar no grupo, e as mães vêm me procurar. Isso é muito gratificante, porque mostra que estamos no caminho certo. A cultura é, sim, diversão, mas, acima de tudo, é a tradição dos nossos antepassados, e eu carrego isso comigo”, afirmou.

Encerrando a mesa, o mestre Zé Rolinha destacou o folclore brasileiro, especialmente o sergipano, como um patrimônio cultural que reflete a história, as crenças e a identidade. “Um povo sem memória é um povo sem história. Precisamos ter isso em mente para seguirmos em frente, sempre preservando essa cultura popular que cultivamos para nós e para todos”, afirmou.

Cortejo cultural
Após a mesa-redonda, os grupos folclóricos e parafolclóricos tomaram as ruas em um vibrante cortejo que começou na Praça Fausto Cardoso e seguiu até a Praça General Valadão, passando pelo calçadão do Centro de Aracaju. A manifestação cultural encheu as ruas de cores, alegria e ritmo, atraindo a atenção de todos os presentes. Entre os grupos que participaram do cortejo estavam os Zabumbadores de Vó Lourdes, o grupo São Gonçalo de Amarante, o Reisado de São José, Tonico de Ogum, Afoxé Di Preto, União Capoeira do mestre Lázaro, Reisado As Filhas de Maria e o Grupo Pará Folclórico de Mestre Saci Quilombola.

Para o mestre Saci Quilombola, líder do grupo parafolclórico da comunidade Maloca, o primeiro quilombo urbano de Sergipe e o segundo do Brasil, a ação no Dia do Folclore foi de grande importância para os grupos culturais do estado. “Nos sentimos vistos e valorizados. Foi realmente um dia de festa, e estou orgulhoso de participar disso com o meu grupo. Muito obrigado”, disse.

“Tivemos uma troca muito enriquecedora com os mestres, que compartilharam a realidade dessa tradição transmitida de pai para filho. Nós, como aprendizes, estamos aqui hoje para absorver esse conhecimento. Embora o grupo Zabumbadores de Vó Lourdes exista há apenas 14 anos, temos a consciência de que é nosso dever repassar esses ensinamentos de maneira única, fomentando, preservando e construindo essa tradição”, afirmou o mestre do grupo Zabumbadores de Vó Lourdes, Ton Toy.

O músico, educador e pesquisador da cultura popular brasileira Tonico de Ogum também participou do cortejo com seu grupo Sucata Sonora. “Quando falamos dos projetos com a Sonora, falamos da possibilidade de criar sons a partir de qualquer coisa. O primeiro instrumento do ser humano é o próprio corpo, e ao reutilizar e adaptar o que seria descartado transformamos o lixo em luxo, revelando uma sonoridade que está profundamente ligada ao nosso cotidiano. O Sucata Sonora nasce dessa possibilidade, e ao abordar a oralidade e o popular, tudo se encaixa dentro do folclore, que carrega a força do dia a dia, muitas vezes invisível, mas que é uma potência estudada e valorizada por muitos”, explicou.

O vendedor ambulante Rogério acompanhou todo o trajeto do cortejo e até se juntou à festa com os grupos. “Gosto demais disso, de brincar, de pular. Foi muito bom, todos estão de parabéns”, disse.

Rosângela dos Santos estava no calçadão quando o cortejo passou e parou para admirar os grupos. “Foi uma alegria imensa ver esses grupos, pessoas de todas as idades participando. As cores, as músicas, cada um do seu jeito. É bonito demais. Essa é a nossa cultura, viva o folclore”.

O diretor de Cultura da Funcap, Eugênio Enéas, reafirmou o compromisso do Governo de Sergipe e da Funcap em manter e fomentar a cultura e a tradição do estado. “A homenagem ao Dia do Folclore é fundamental para a valorização e preservação da identidade de um povo. É essencial transmitir nossa cultura e tradição, que são nossas maiores riquezas, garantindo que jamais sejam esquecidas. Viva o nosso folclore sergipano!”, declarou.

Fonte: Secom

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Noticias Relacionadas

Categorias

ACESSE TAMBÉM

colunas e artigos

A Pokante No Ar

Aida Brandão

Meio Ambiente

Thiago Carlindo

Redes Sociais

Abrir bate-papo
Povão Jornal 35 Anos
Olá 👋
Em que podemos ajudar?