Até dezembro do ano passado, um número maior de meninos e meninas diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) passou a ser ainda mais realidade em escolas não especializadas Brasil afora. O registro é do Censo Básico Escolar, o qual aponta que, entre 2022 e 2023, o quantitativo de matrículas nestas unidades aumentou em 50%, passando de 405.056 para 607.144.
Este dado traz consigo o reflexo de que, cada vez mais, educadores de todo país, ao lado também de cuidadores e profissionais ligados à área da saúde, precisam buscar formas de especialização, de modo a tornar a experiência educacional desses estudantes mais assertiva e satisfatória.
Para a docente do curso de pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada (Aba) aos Transtornos do Neurodesenvolvimento da Universidade Tiradentes (Unit), psicopedagoga, mestranda internacional em Ciências da Educação pela Ivy Enber Christian University e especialista em Atendimento Educacional Especializado e Educação Inclusiva, Jacqueline Montalvão, o conhecimento em métodos específicos de avaliação podem ser o caminho para alcançar tal feito.
“Atualmente, as intervenções baseadas em Análise do Comportamento Aplicada, voltadas para o público com autismo, é uma tarefa compreendida como um campo de estudo, uma disciplina e uma prática. Em relação a esta última, posso afirmar que a temática é uma prestação de serviço para incluir os alunos autistas com base na ciência e, assim, demonstrar eficácia no tratamento deles”, salienta Jacqueline que palestrou sobre o tema em um evento promovido pela Unit na noite da quarta-feira (22).
Dois principais artifícios são citados pela professora como sendo alguns dos pontos fortes no momento de se pensar em meios para ampliar o processo de ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes com autismo. O primeiro deles diz respeito a técnica conhecida como Inventário Portage Operacionalizado, que consiste em um guia utilizado para descrever e levantar comportamentos em crianças entre 0 e 6 anos, relacionados à socialização, linguagem, autocuidados, cognição e desenvolvimento motor. Já o segundo consiste no Programa de Avaliação e Colocação de Marcos de Comportamento Verbal (VB-MAPP, na sigla em inglês) que possibilita avaliar os níveis de funcionalidade de pessoas com autismo.
Entretanto, pôr em prática ambos conceitos ainda representa um desafio e tanto no país onde a estimativa de pessoas que convivem com o TEA chega a, pelo menos, 2 milhões, segundo o último levantamento conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e ratificado pelo Ministério da Saúde. Isso porque em meio a este panorama, dados obtidos pelo portal Terra, divulgados em dezembro passado, revelam que 94% dos professores brasileiros não possuem formação continuada em Educação Especial, área que contempla as técnicas para ensino de diversos grupos, dentre eles os que receberam este tipo de diagnóstico.
“Um papel importante do profissional que pretende avançar em seus conhecimentos é aprender sobre o comportamento humano em si e desvendar metodologias de ensino baseadas na ciência. Uma pós-graduação na área, por exemplo, é uma janela que se abre para novas experiências de vida e significa entender que somos profissionais com necessidades para continuar aprendendo. Não menciono em colecionar títulos, mas sim fazer as escolhas certas e trabalharmos com estratégias assertivas”, acrescenta Jacqueline.
A estudante do curso de pós-graduação em Psicopedagogia e Educação Inclusiva da Unit, Josefa Vilma Nascimento, faz parte da lista de profissionais que já buscam por esta qualificação
“A gente está no mundo onde é recorrente nos depararmos com crianças diagnosticadas com autismo e o que me fez estar aqui hoje é poder, de alguma maneira, ajudar no desenvolvimento desses alunos. Já tive estudantes autistas, inclusive um que tinha muita dificuldade motora, o que me fez introduzir um lápis de carpinteiro para auxiliá-lo, além de que ele não podia ouvir um som, mesmo da TV, e ainda lidava com problemas de mobilidade. Então, conhecimentos assim aumentam as chances de podermos, enquanto profissionais, auxiliar alunos como este que tive e tantos outros que há”, compartilha.
Fonte: Asscom Unit