ITPS investiga potencial do pó de rocha como fertilizante natural para agricultura

A utilização do pó de rocha como alternativa sustentável para a agricultura no estado tem sido avaliada por um grupo de pesquisadores sergipanos. A pesquisa inovadora conta com apoio do Governo de Sergipe, por meio do Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe (ITPS), e tem como foco a avaliação da composição mineral de diversas rochas e minerais, visando a produção de fertilizantes naturais, conhecidos como remineralizadores.

Intitulada ‘Avaliação de composição mineral de rocha e minerais, para a produção de fertilizantes naturais como alternativa sustentável para a mineração e agricultura no estado de Sergipe’, a pesquisa é apoiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE) e Fundação de Desenvolvimento de Tecnópolis (Funtec). Participam do projeto o pesquisador e coordenador da pesquisa, Samir Hipólito dos Santos, a supervisora Karina Magna Macena Leão; os bolsistas DTI Leonardo Oliveira Esquivel e Silvia Vitória Guimarães Santos; e a bolsista IT Nicolle Cerqueira Sampaio.

O objetivo principal da pesquisa, que começou em julho de 2023 e está prevista para encerrar em julho de 2025, é identificar rochas com características ideais para a remineralização do solo. O coordenador contou que essas rochas, ricas em macromicronutrientes essenciais, são moídas no processo de rochagem, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento das plantas. A investigação busca oferecer uma alternativa sustentável aos fertilizantes químicos, especialmente diante dos desafios enfrentados com a disponibilidade desses produtos, agravados pela situação geopolítica global.

“Esses minerais contêm os macromicronutrientes essenciais para a nutrição para ser utilizada na agricultura. Portanto, vão ajudar no desenvolvimento e crescimento das plantas. A intenção não é substituir os fertilizantes químicos, mas ser uma alternativa, tendo em vista que já existem os fertilizantes químicos, conhecidos por serem fertilizantes solúveis, utilizados periodicamente na agricultura e que trazem algumas problemáticas. Umas das dificuldades é sobre a produção dos fertilizantes por conta da guerra entre Ucrânia e Rússia, já que este último é um dos maiores exportadores de fertilizantes minerais no mundo. Desta maneira, esses fertilizantes estão ficando cada vez menos acessíveis. Por isso a necessidade de uma alternativa sustentável, como a dos fertilizantes produzidos a partir da utilização dessas rochas”, defendeu.

Critérios

A normativa do Ministério da Agricultura nº 5/ 2016 estabelece critérios sobre remineralizadores e substratos para plantas. “Ela trata sobre o mínimo de nutrientes para ser considerado como um remineralizador de solo. As rochas que tiverem dentro desses parâmetros serão realizados os testes de implantação”, informou o pesquisador. 

Ainda segundo o coordenador, o estudo se desenvolve a partir do mapeamento das rochas, coleta do material rochoso, com identificação dos nutrientes e o processo de rochagem, que consiste na moagem da rocha. 

“Com isso, a rocha é moída e feito um pó bem fino, que é utilizado como fertilizante natural na agricultura. Atualmente, por exemplo, estamos fazendo a coleta do xisto, que tem a característica de ter alto teor de potássio, nutriente presente na agricultura. Após a coleta, o material é trazido ao laboratório, onde é feito o preparo e quando chega no laboratório se transforma em amostra. Desta maneira é feito o preparo dessa amostra e as análises tanto por EDX como por ICPOS, duas técnicas espectros analíticas que fazemos a partir da análise dessas amostras para determinar os elementos químicos que têm na rocha”, explicou.

Vantagens

O pesquisador explicou que o pó de rocha, utilizado como fertilizante, oferece vantagens significativas para a agricultura, sendo uma opção mais sustentável e benéfica para o solo. Além disso, aborda a exploração dessas rochas e seu potencial impacto positivo na agricultura.

“A pretensão é estimular e trazer uma alternativa para a redução dos fertilizantes químicos, que são feitos a partir de processos químicos e também contém elementos tóxicos e cumulativos ao meio ambiente. Já o fertilizante natural, que é o pó de rocha, apresenta menos quantidade de elementos tóxicos, eles são naturais e têm a vantagem de não precisar fazer novas adições na agricultura. Em pouco tempo, apresenta uma liberação lenta dos nutrientes para o solo, que pode durar de quatro a cinco anos, sem precisar fazer novas adições. Desta forma, pode reduzir a utilização dos fertilizantes químicos”, relata.

É justamente essa característica que gera um grande interesse, uma vez que, hoje em dia, o Brasil é o quarto maior exportador de fertilizantes químicos no mundo e não consegue suprir a produção de fertilizantes no mercado interno. Portanto, mais de 80% dos fertilizantes químicos são importados. “Desta maneira, há uma necessidade de procurar alternativas para reduzir a utilização dos fertilizantes químicos e não ficar na dependência de outros países”, acrescenta o pesquisador.

Pioneirismo

Samir Hipólito dos Santos destacou ainda que é a primeira vez que esse tipo de estudo é realizado em Sergipe. “Existem muitas pesquisas hoje em dia em alguns estados. Porém, em Sergipe, é a primeira vez, pois é um trabalho muito grande. É preciso fazer a avaliação e coletas de todos esses minerais. No Brasil, são poucos estados que fazem esse tipo de investigação”, destacou. 

Outro ponto importante da pesquisa é o mapeamento geológico que permite identificar e catalogar os recursos minerais presentes no estado. Com isso, fornece uma compreensão aprofundada da composição e distribuição dos recursos minerais disponíveis. Além disso, o mapeamento geológico desempenha um papel estratégico na compreensão e no uso sustentável dos recursos naturais de um estado. Ao integrar essas informações em pesquisas específicas, como a que envolve o pó de rocha como fertilizante, é possível criar soluções inovadoras e promover um equilíbrio entre o desenvolvimento humano e a preservação ambiental.

Para a bolsista Nicole Cerqueira, que é estudante do curso de Geologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a pesquisa é importante também para o mapeamento geológico que é feito nas áreas estudadas. “Já realizamos a coleta em cinco municípios como Nossa Senhora da Glória, Gararu, Itabi, Aquidabã e Porto da Folha. A gente está indo também para Poço Redondo, depois Canindé, porque a gente vai atrás de outros tipos de agrominerais. A ideia é mapear todo o estado”, revelou.

Segundo ela, essa é uma forma de buscar um ganho para os pequenos produtores, além de servir também para despertar o interesse em áreas não muito exploradas. A partir desse mapeamento, os pesquisadores vão saber quais são as rochas que são mais interessantes para a pesquisa, quais as composições, os elementos necessários para alcançar um resultado mais favorável ao objetivo da pesquisa. “Então essa parte da geologia é bem essencial também, ainda mais nessa parte inicial do projeto, que é prospectar essas rochas que vão dar um parâmetro melhor na pesquisa”, completou Nicole Cerqueira. 

Ela acrescentou ainda que a ideia da pesquisa é mapear todas as áreas do estado. “Por enquanto, os trabalhos têm sido realizados em áreas conhecidas como ‘Domínio Macururé’, que abrange os municípios de Itabi, Aquidabã, Nossa Senhora da Glória, Gararu, Porto da Folha e Nossa Senhora da Glória.  

Práticas sustentáveis

Na opinião da diretora técnica do ITPS, Lúcia Calumby, o Governo de Sergipe, ao investir no estudo inovador, demonstra seu compromisso com práticas agrícolas sustentáveis e busca prover soluções locais diante de desafios globais. Segundo ela, essa iniciativa não apenas pode revolucionar a agricultura em Sergipe, mas também servir como exemplo inspirador para outras regiões.

“As pesquisas em andamento no ITPS, principalmente as que envolvem o desenvolvimento da agricultura no estado, têm o objetivo de promover práticas agrícolas mais sustentáveis, reduzindo a dependência de insumos químicos e melhorando a saúde do solo. O pó de rocha, por exemplo, além de ser um remineralizador, que ajuda na recomposição dos minerais no solo, com menor custo, é também uma alternativa em função da crise mundial no fornecimento dos fertilizantes, em decorrência da guerra na Ucrânia”, ressaltou.

Fonte: Secom

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