Menopausa e “seus acharques”

Choveu a semana toda, decidi escrever sobre um tema relevante que não deve ficar invisível. Aproveitando esse momento de calma e silêncio, decidi escrever sobre o assunto. Para ajudar na inspiração, coloquei uma música que fazia tempo que não ouvia, talvez você conheça, mas vou compartilhar apenas um trecho dessa linda canção para despertar reflexão sobre a intensidade emocional e a efemeridade do período da menopausa e seus acharques. A cantora Leila pinheiro e sua obra sonora poética são parte dessa reflexão:

Viver é afinar o instrumento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, a todo momento
De dentro pra fora
De fora pra dentro
A toda hora, a todo momento
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo

O esplendor para a transformação do corpo é simplesmente o ponto final de uma fase (menstruação) e o início de outra (menopausa). Quando ela chega causa uma descompensação, ás vezes, de forma sorrateira ou inesperada, seja tardia ou precocemente. Fala-se do climatério, da perimenopausa, da pré-menopausa, da pós-menopausa… Quantas pausas! E não resisti, de repente acabei lembrando daquele bordão dos anos 90: “Eita, lelé!”, de repente tudo desmoronou.

Começando a ter metacrises preparando para a transitoriedade: empatia, desimpatia, a estética, irritabilidade, fadiga mental, variações de humor, melancolia, ansiedade, insônia, raiva, ambivalência, fogachos e muitas outras mortificações. Ao mesmo tempo, percebendo as alternâncias entre o calor, frio… e como equilibrar e afinar as cordas desse instrumento. E o mais engraçado (ou estranho) é que também surgem escapes de urina. Confesso que já dei boas risadas ao pensar nisso tudo, especialmente no corre-corre para se esconder e não passar desconforto fora de casa. Mas é importante lembrar que esses sinais são bem comuns na menopausa, principalmente devido às mudanças hormonais que acontecem nessa fase da vida. Apesar de ser um pouco constrangedor, é algo natural e faz parte do processo.

“Seu corpo é seu maior bem, ele guarda e reflete a sua alma. Cuide dele como se fosse uma pedra preciosa e nós o lapidaremos”.
Joseph Pilates

Essa ebulição é realmente desafiadora, saber lidar com a correnteza de sintomas e cuidar da nossa casa corporal exige força de vontade, atenção às nossas percepções e um entendimento mais profundo do próprio corpo, que passa por várias transformações. Cada nível visa uma finalidade, uma importância. Seu corpo é sacramental, mas muitas pessoas não dão a devida importância a isso. Toda mudança de ciclo é difícil. O importante é ter uma compreensão metafísica (além do físico) e trabalhar essa energia Vital desorganizada e as experiências emocionais profundas. O objetivo é integrar o corpo físico, mental e emocional, buscando harmonia diante desses incômodos.

Precisamos também superar certos tabus, porque a menopausa não é uma doença. Se formos no passado e fizermos uma comparação entre os corpos femininos e suas mudanças ao longo do tempo, se transpusermos dos anos 40 para os tempos atuais, percebemos que pouco mudou em relação aos sintomas da menopausa, eis um trecho de uma poesia de Thalita Rebouças: Vamos berrar para o mundo o que ele precisa ouvir com atenção o feminino é sagrado e profundo é sexto sentido e razão.

Certa vez na academia, aproveitei para perguntar, como sempre faço, às minhas colegas fitness se estava tudo bem. Conversei com uma delas e perguntei se tinha conseguido aliviar os incômodos da menopausa. Ela me olhou com aquele olhar ardente, como se fosse uma chama, e respondeu: Cada dia fica pior amiga… tô louca, loucaaa…, Na hora, percebi que parecia uma tragédia grega ou uma avalanche meio fora de controle, quase prestes a me atingir. A dramaticidade se fez presente. Cheguei até fazer uma rima: Suor noturno, vira pra lá, vira pra cá, sem posição, a gente fica até sem noção.

Ao olhar para esse processo, percebi que não se trata de uma fatalidade. Aprender espiritualmente o significado dessas mudanças é uma transição natural. Pode parecer devastador e até desintegrador, mas é, na verdade, uma oportunidade de se reencontrar num novo contexto. É como deixar para trás uma antiga versão de si mesma e abraçar uma nova identidade neste novo ciclo. Resolver essas questões positivamente é libertador, celebrando essa transição como arquétipo da mulher, enxergando essa fase como um verdadeiro portal para novas oportunidades, o amadurecimento da psiquê e um caminho de autoconhecimento e empoderamento.

As comunidades indígenas apresentam diversas práticas e tradições que visam preparar as mulheres para a menopausa. Esses conhecimentos costumam ser passados de geração em geração e envolvem o uso de plantas medicinais. A preparação geralmente inclui cerimônias de passagem, orientação das mulheres mais velhas, uma alimentação adequada e cuidados com o corpo. De acordo com o depoimento da Catarina Nimbopyrua anciã da Aldeia Tapirema, Dentro da cultura Tupi-Guarani, depois da menopausa, a mulher desenvolve mais espiritualidade. Ela é considerada mais velha e mais sábia, que ganha o respeito das mais novas e o respeito de toda a aldeia. É o momento dela ensinar, porque tem mais experiência e espiritualidade. É algo bom, porque é natural, é da natureza, não podemos desrespeitar a natureza.

De acordo, com a psicóloga Fani, buscar um caminho entre a aceitação e a não “patologização” (significa processo de transformar algo que não é uma doença em uma doença), desse momento da vida da mulher, já é grande ferramenta na hora que surgem os sintomas.

É necessário rever sua biografia, observando com sensibilidade cada etapa percorrida. E esse processo do envelhecer deve ser encarado com serenidade, buscando harmonizar suas forças psíquicas e perceber as dinâmicas emocionais exageradas que precisam ser ancoradas. Lembro de alguns comentários que vi sobre os atores que fazem parte dessa novela (chás, terapia hormonal, a pratica de atividades físicas, suplementos nutricionais e alimentação de qualidade) que são algumas estratégias que podem ajudar nesse sentido.

É importante entender que a silhueta muda com o tempo, o metabolismo tende a diminuir, é necessário comer um pouco menos e praticar mais exercícios para manter o peso. E, surpreendentemente, muitos desses chás realmente fazem a diferença! Claro que é de fundamental Importância o Acompanhamento Médico para orientar melhor essas escolhas e garantir que tudo seja feito com segurança e uma melhor qualidade de vida.

Sem mais delongas, gostaria de elencar outros sintomas que podem ajudar a esclarecer muitas dúvidas para todas as mulheres. Cada pessoa é única e pode apresentar sinais diferentes ou semelhantes; por isso, é fundamental pesquisar sobre o assunto, ler, entender esses sintomas e criar uma conexão com eles. Conversar com amigas também faz toda a diferença — aquelas resenhas, longos papos sobre tudo, trocar experiências e ajudar umas às outras. Com o tempo, aprendemos a ouvir nosso próprio corpo e a estabelecer um diálogo amoroso. Que você possa viver de forma mais leve e celebrativa a cada momento.

Por Moni Praddo, jornalista, escritora e terapeuta

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