O Brasil enfrenta uma realidade alarmante: cerca de 16 milhões de pessoas vivem totalmente sem dentes, de acordo com dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse dado revela a disparidade no acesso à saúde bucal e ressalta a necessidade de políticas públicas eficazes e articuladas. Nesse contexto, a digitalização dos serviços odontológicos no Sistema Único de Saúde (SUS) surge como uma alternativa viável para ampliar o acesso e melhorar a qualidade da atenção odontológica, especialmente em áreas mais isoladas do país.
Essa temática foi um dos focos da reunião realizada em Brasília, na sede do Ministério da Saúde. O encontro contou com a presença de referências nacionais na área odontológica, entre elas a professora Guadalupe Ferreira, coordenadora do curso de Odontologia da Universidade Tiradentes (Unit). Ela integra a Comissão de Assessoramento da Coordenação Geral de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, grupo composto por membros de universidades de destaque. A Unit é a única instituição privada de ensino superior representada na comissão.
Segundo a professora Guadalupe, o principal objetivo do encontro foi fazer um balanço das ações já em andamento e traçar estratégias para fortalecer ainda mais a Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB). “Enquanto membro da comissão, sinto a responsabilidade de representar tanto os profissionais da odontologia quanto a população na construção de políticas públicas na área. Essa reunião, em especial, teve como foco avaliar o que já foi realizado e planejar novas ações de relevância nacional”, ressaltou.
Inovação e tecnologia em destaque
A integração da saúde bucal ao SUS Digital representa um avanço significativo em direção a um atendimento mais equitativo. Com o uso de recursos como prontuário eletrônico, telessaúde, telediagnóstico e monitoramento remoto, os serviços se tornam mais rápidos, qualificados e eficientes. Além disso, essas ferramentas permitem o diagnóstico precoce de doenças como o câncer bucal, oferecendo suporte técnico mais efetivo aos profissionais da rede pública e otimizando os recursos disponíveis.
Entre os temas discutidos no evento, a professora Guadalupe chamou atenção para os debates relacionados aos investimentos destinados à saúde bucal e à forma como esses recursos serão distribuídos entre estados e municípios. No entanto, foi a pauta da saúde digital que ganhou maior evidência. “A saúde bucal é uma rede que se estende desde a atenção básica até os cuidados hospitalares. As ações têm como finalidade atender de forma integral às necessidades da população, considerando a saúde como um conceito amplo que envolve bem-estar físico, mental e social”, destacou.
A proposta de incorporar a saúde bucal ao SUS Digital foi apresentada por Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde e também cirurgiã-dentista. Para Guadalupe, essa iniciativa marca um momento importante para o sistema público. “Esse contexto exige uma abordagem transdisciplinar, em que diferentes áreas se complementam. Por exemplo, ao investir em ações de promoção da saúde como acesso à água tratada e fluoretada, e ao oferecer serviços preventivos que evitem dores e perdas dentárias, conseguimos detectar precocemente casos de câncer de boca, evitando agravamentos, internações e até óbitos. Isso está ou não relacionado ao bem-estar coletivo?”, questionou a docente.
Compromisso e representatividade
A participação da Unit na comissão reforça seu papel relevante nas áreas de ensino, pesquisa e extensão voltadas à saúde coletiva. “Ser a única instituição privada com assento nessa comissão mostra o reconhecimento nacional da qualidade da Unit, refletido na ética, no ensino e na inovação oferecida aos alunos, profissionais e à população beneficiada pelos nossos serviços nos estados onde atuamos”, enfatizou Guadalupe.
Essa representatividade também proporciona à comunidade acadêmica um contato mais próximo com informações atualizadas sobre políticas públicas, indicadores de saúde e tendências do mercado profissional. “Isso favorece o envolvimento dos nossos estudantes com as demandas nacionais de sua área de atuação, incentivando a busca por conhecimento, inovação e construção de redes de colaboração que vão além da formação acadêmica”, completou a coordenadora.
A Universidade Tiradentes tem atuado de forma ativa na rede de atenção à saúde bucal, através de estágios supervisionados, projetos de extensão e atendimentos odontológicos à comunidade. A instituição também já se prepara para as transformações propostas pelo SUS Digital, investindo em infraestrutura tecnológica de ponta para alunos e pacientes. Entre os recursos já utilizados estão radiografias digitais, prontuários eletrônicos e atendimentos integrados com outras áreas da saúde.
“Nosso trabalho é baseado em evidências científicas, com foco em ampliar a oferta de serviços à população desde os atendimentos básicos até os mais especializados. Isso qualifica os profissionais em formação e contribui com a sustentabilidade, por meio da redução de resíduos e da maior precisão nos diagnósticos”, detalhou Guadalupe.
Metas e perspectivas futuras
Com a promulgação da Lei 14.572/23, que estabelece as diretrizes da nova Política Nacional de Saúde Bucal, o desafio agora é colocá-las em prática em todas as esferas de governo, priorizando o acesso universal, a equidade e a integralidade no atendimento. “É essencial investir também na capacitação contínua dos profissionais que atuam na saúde bucal, além de outras ações que devem ser executadas pelos municípios, com o apoio dos estados e da União, garantindo que todos estejam aptos a prestar um serviço de qualidade e com ética”, concluiu Guadalupe.
Fonte: Asscom Unit