Em meio à efervescência do carnaval carioca, um bloco peculiar se destacava: o Bloco do Chá da Meia-Noite. Sua origem, envolta em mistério e sarcasmo, remonta a um período sombrio da história da saúde pública no Brasil, mais precisamente durante a pandemia da Gripe Espanhola em 1918.
A alcunha “chá da meia-noite” fazia alusão a um boato que circulava na época, sobre um suposto “tratamento” administrado em alguns hospitais, especialmente na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, que na época ficou com a fama de “casa do diabo” devido a superlotação e falta de higiene. A lenda dizia que, à meia-noite, um chá misterioso era oferecido aos pacientes em estado terminal, com o intuito de “acelerar” sua partida e liberar leitos.
A veracidade do “chá da meia-noite” nunca foi comprovada, mas a história se enraizou no imaginário popular, tornando-se um símbolo da precariedade e do desespero da época. O Bloco do Chá da Meia-Noite, com sua irreverência característica, resgatou essa memória, transformando a tragédia em sátira.
Do Hospital para as Ruas:
O bloco, formado por profissionais da saúde e foliões irreverentes, desfilava pelas ruas do Rio de Janeiro com fantasias que remetiam ao ambiente hospitalar, como enfermeiros, médicos e esqueletos. A música, com letras bem humoradas e críticas sociais, abordava temas como a saúde pública, a morte e a hipocrisia.
O Bloco do Chá da Meia-Noite, com sua mistura de folia e crítica social, tornou-se um símbolo da resistência e da esperança em tempos difíceis. Ao resgatar uma história sombria, o bloco nos convida a refletir sobre a importância da saúde pública e a necessidade de lutar por um sistema mais justo e humano.
Curiosidades:
- A Santa Casa de Misericórdia, mencionada na lenda do “chá da meia-noite”, era
um dos principais hospitais do Rio de Janeiro na época da Gripe Espanhola. - O boato do “chá da meia-noite” se espalhou rapidamente, alimentando o medo
e a desconfiança da população em relação aos hospitais. - O Bloco do Chá da Meia-Noite, com sua irreverência e humor ácido, ajudou a
transformar a tragédia em sátira, proporcionando um momento de alívio e
reflexão durante o carnaval.


Dr.Carlos Moraes é jornalista )(DRT 2896) e diretor clinico da Clinica de Medicina Natural de Aracaju